Ângela Ferreira
Qualquer tentativa de classificação do trabalho de Ângela Ferreira transforma-se num verdadeiro desafio, dado que as classificações são justamente um dos temas abordados nas peças da artista.
Nascida em 1958 em Maputo, capital de Moçambique, Ângela Ferreira viveu nesta cidade até 1973, mudando-se depois para Lisboa, onde viveu o intenso período da revolução de 25 de Abril de 1974. Em 1976, e à semelhança de tantos outros luso-moçambicanos, muda-se para a África de Sul, mais precisamente para a Cidade do Cabo para estudar Artes Plásticas.
Os anos passados neste país foram decisivos para o desenvolvimento da consciência cultural de Ângela Ferreira, uma consciência que produziria uma intensa sensibilidade política que cedo se manifestou nos seus trabalhos. Durante os anos 80, a África do Sul foi alvo de um boicote económico e cultural internacional, com o objectivo de forçar o fim do regime do apartheid. Devido a esse bloqueio, e enquanto estudante de arte, Ferreira esteve politicamente restringida e fisicamente distante dos centros “reconhecidos” de produção de arte e dos respectivos discursos, não havendo lugar para encontros directos com as obras, mesmo quando estas faziam parte do programa da Escola de Arte da Cidade do Cabo. Todos os discursos modernistas da Europa e dos Estados Unidos eram, assim, transmitidos enquanto teoria e a sua materialização nunca se concretizava; ou, como a artista comentou uma vez, “a única materialização que existiu foi na forma de apresentações de slides, os ‘originais’ nunca chegavam lá”.
Esta situação conduziu a um fenómeno de prática artística derivada dos “originais” existentes nos longínquos museus das capitais culturais do mundo ocidental. Este tipo de fenómeno acontece na periferia por razões geográficas e políticas, apesar de também ser visível nos chamados centros de produção de arte e de teoria. O facto foi observado pela artista durante os seus estudos e reflecte-se ainda hoje na perspectiva irónica e autobiográfica que imprime aos seus trabalhos, quer em relação a uma África do Sul culturalmente isolada, quer em relação a um Portugal pré e pós-revolucionário.
Jürgen Bock – ArtÁfrica
Ângela Ferreira é uma das artistas presentes na IKM na exposição “Maputo: a tale of one city”
1 comentário:
Bom dia à todos
A Ângela Ferreira é uma descoberta para mim. Tentei percorrer a Internet para descobrir mais trabalhos seus e descobri muito sobre o que ela tem criado: pintura, fotografia e muita instalaçäo.
Resumindo so posso dizer que ela é de facto uma artista contemporânea, näo de ponto de vista cronologico. Aprecio quando um artista experimenta e/ou se manifesta através das diferentes formas das artes plàsticas.
Mas a presente obra da Ângela, envia-me à alguns trabalhos do artista contemporâneo indo-britânico, Anish Kapoor, pelo materil usado e a deformaçäo das imagens presentes na obra.
Confesso que é dificil perceber este trabalho analisando-o à partir de uma reproduçäo.
Ultimamente tenho tido sérios problemas de envio de comentàrios, outos nem chegam a ser publicados. Desconheço se seja meu problema ou simplesmente técnico.
Um forte abraço ao blog.
Félix Mula
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