sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Queha na anual do MUSART e outras tertúlias




Na quinta feira dia 17, por volta das 20h o Zé Teixeira ligou-me e queixou-se de não me ter visto na inauguração da importante exposição de artes plásticas, a Anual do Museu Nacional de Arte em que ele foi um dos membros do júri. Gilberto Kossa, Victor Sala, Alda Costa e Otília Aquino foram os outros membros do júri. Justifiquei ao Zé que foi pela trapalhice de compras porque iria oferecer no dia seguinte um jantar a uns amigos em minha casa. Coincidentemente um dos convidados seria o Jorge Dias, o curador do museu e da referida exposição.


O dia seguinte (sexta-feira), começou agitado porque tinha que dar entrada no Ministério da Educação e Cultura de um documento urgente que não podia passar para outra semana. Na rua, o sol estava escaldante e o movimento intenso de sexta-feira era ainda mais intenso pelo facto de estarem próximas as festas do Natal. Muito tráfego, lojas cheias de pessoas comprando presentes, filas enormes nos bancos, vendedores ambulantes com árvores de natal por todo lado. Maputo típico...


Nathan - 1º Prémio Pintura Anual Musart 2008

Por volta das 11h40m estacionei o carro e dirigi-me ao Ministério da Educação e Cultura para tratar do referido documento. Pelo caminho cruzei-me com um amigo jornalista com quem troquei saudações e que também se queixou de não ter-me visto na inauguração da anual do museu. Acabada a minha justificação ele conta-me, sem muitos detalhes, um episódio ocorrido no evento. Poucos minutos depois de se ter anunciado o resultado dos vencedores dos prémios, o Queha, artista participante e vencedor de alguns prémios artísticos na praça, retirou, em pleno acto cerimonial de vernissage, o seu quadro da exposição, levando-o consigo para fora do Museu.
Fiquei intrigado com a notícia, mas também muito curioso. Fui reflectindo sobre o que teria motivado o artista a tal atitude. Protesto de injustiça pela atribuição dos prémios? Reivindicação de um prémio que supostamente mereceria? Pura rebeldia? Uma performance? Enfim…

Pekiwa - 1º Prémio Escultura Anual Musart 2008


O dia foi correndo e já eram 14.30 hora marcada para a reunião do Muvart, sugerida pela Dra. Alda Costa, com o Francês, Jean Digne, presidente do Hors Les Murs, um centro nacional de recursos das artes da rua e das artes da pista (circo). Criado em 1993 pelo Ministério da Cultura Francês, este centro tem por missão observar e acompanhar as práticas artísticas que acontecem fora de muros através de actividades de informação, documentação, formação, avaliação, estudos e edições. O Jorge e o Marcos estariam na reunião e pensei aproveitar a ocasião para clarificar o episódio da anual. O facto foi confirmado mas os motivos do acto permaneceram no segredo do autor. Os comentários em torno daquele acontecimento levantaram um debate em volta do tema que eu classificaria como assunto de responsabilidade artística. Se não vejamos:

Há um ano, ou melhor, no ano passado foi posto em funcionamento, talvez em regime experimental, um novo modelo da anual MUSART para atender a uma tensão da opinião pública que reivindicava o evento mais digno com um projecto curatorial interessante e didáctico.

O modelo utilizado, que não atribuiu prémios, consistia em organizar a anual de 2007 através de convites particulares dirigidos a artistas que, segundo a curadoria constituída por José Pimentel Teixeira e Maria Elisa Chim, apresentavam uma produção inédita no sentido inovadora.

Gonaçalo Mabunda - Anual MUSART 2007
Na minha opinião o novo modelo tinha respondido em grande parte à missão do Museu e também a reivindicação da opinião pública “…agora sim, nós queremos referências de boas coisas para evoluirmos. O Museu não pode ser uma galeria para soluções económicas dos artistas. Projectos paternalistas são no Núcleo…" Este foi o comentário de um artista jovem acabado de ser formado pela ENAV.

Do júri da anual deste ano fizeram parte, curiosamente, os directores da ENAV e do NÚCLEO DE ARTE, assim como José Teixeira um dos curadores do anterior modelo experimental; Julieta Massimbe, directora do Museu, e Jorge Dias, o curador do Museu, aprovaram, por sua vez, o regresso ao anterior modelo ou tal não teria acontecido.
O que aconteceu? Como podem as mesmas pessoas que defenderam e promoveram o novo modelo estar hoje a assinar o regresso ao modelo anterior? Que justificação têm para este acto?

A única tese de Doutoramento em História de arte de Moçambique, de Alda Costa feita em 2005, tem um título moderador: Arte e Museus em Moçambique-Entre a construção da nação e o mundo sem fronteiras. Será que a situação descrita acima pode ser legenda com este título, ou estamos perante uma vertigem total de responsabilidade artística?

Berry Bickle - Anual MUSART 2007

A atitude do artista talvez não seja a politicamente mais correcta e responsável neste projecto, mas é sintomática de enfermidade grave. Esta falta de coerência por parte da organização só pode irritar os concorrentes. O artista foi convidado a concorrer para um prémio. Não tendo ganho retira-se do jogo, porque o próximo jogo é outro jogo e deve ter outras regras.

A reunião do Muvart com o Francês, uma conversa de troca de experiências ao nível de percursos e sistemas de gestão artística moçambicana e francesa, foi muito frutuosa e saudável para ambos os lados. E o Jean Digne fez um comentário, a propósito da sua impressão sobre a cidade de Maputo, que achei interessante, por isso queria partilhar convosco.

Jean Digne disse que não sentia estar em África. Sem pretender comparar Maputo com o ocidente, exemplificou o seu comentário, mostrando-nos, de dentro da montra do café Continental, os vendedores ambulantes que vendiam árvores de natal. “Nunca vi isso em África e não é a ideia que temos de África… Mas também tivemos na Europa o caso da Suíça que sempre julgamos não ter identidade embora, hoje já não digamos isso… Também estou intrigado, por exemplo, com o facto de estar aqui a conversar em francês com moçambicanos e não ser contestado e conotado como pregador da minha cultura ocidental, como habitualmente me tem acontecido noutros países africanos que visitei...”


Finalmente a sexta-feira chegava ao fim e aproximava-se o jantar que mencionei no início do texto. Aconteceu com uma Mucapatada (prato Zanbeziano) preparada pela Élia (etnicamente Machope), e rabanadas de sobremesa feitas pela Elisa Santos (portuguesa). Muita conversa com o Luis Abelard, a sua namorada Conceição, a Elisa, a Nelma de Sousa, o Jorge Dias e Taila, minha filha de 1 anito e meio.


Montagem Anual MUSART 2007


No meio da tertúlia, em que o assunto da Anual não deixou de estar presente o Jorge traz a notícia extraordinária da jovem (artista?) brasileira que foi presa durante mais de 50 dias por ter pichado as paredes do edifício onde ocorria a Bienal de São Paulo.


E vale a pena ler aqui os motivos e a discussão em torno deste acto que terá sido mais mediático do que o do Quhea na anual do MUSART

Sábado 20 de Dezembro de 2008
2h51m madrugada
Gemuce

4 comentários:

Anónimo disse...

Gemuce,

Como tinha lhe prometido, aqui estou para reagir aos seus textos, especificamente à este sobre a anual do Museu. Lamento que os debates que aconteciam no Museu organizados as vezes pelo Muvart tenham parado, porque na verdade prefiro aqueles ao vivo, uma vez não sou escritor e desculpo-me antepadamente pelos atropelos gramaticais possíveis. Quero lembrar que sou um simples apreciador das artes e não entendo da arte e muito menos de politicas artisticas. A minha participação neste debate é uma aventura motivada por um julgamento lógico de factos.

Indo directo ao assunto, eu discordo contigo em parte, mas por outro lado, concordo com alguns factos.

Começando pela discordância, acho que a Anual do Museu deve servir democraticamente aos artistas. Este é o meu ponto de partida. Mas ao terminar esta linha, vêm me ao pensamento algumas contradições sobre esta afiração: Qual dos 2 critérios aqui em disputa seria o mais democratico? O critério de concurso ou por indicação/convite, abandonado neste caso, conforme revela o texto do Gemuce? Indicar e eleger não é mesma coisa no meu entender! Por isso acho ser mais democratico eleger, porque as pessoas a serem eleitas, concorrem e se predispõe à eleição de livre vontade. Por isso, não concordo de igual modo com a atitude do Quehá, porque ele sabia que podia vencer ou não, o pémio. Esta atitude parece-me mais de um sentimento egoista e vandalista do que outra coisa. E quando estas atitudes acontecem na arte, fico muito triste porque para mim isto é uma grande contradição com a essencia artistica. Posso estar errado mas sempre associei a Arte à um espaço de cultura da paz… Contudo não consigo imaginar a diferença do resultado da exposição que faria, em termos de participação dos artistas, usando-se um ou o outro critério.

Sabe Gemuce!? Não me lembro de existirem políticas perfeitas. Em todos os tempos as politicas sempre tiveram críticas e nesta coisa da Arte, acho mais difícil ainda , por se tratar de uma área subjectiva… Mas precisamente você deve estar em melhores condições me explicar este assunto, ao me lembrar do seu currículo. És artista, professor de arte, activista artistico e formado em gestão cultural se a memoria não me falha. Também penso que trabalhas no Museu. Estou curioso sobre o que está acontecer. Mas também estamos habituados que no Museu acontecem sempre debates quentes como aqueles organizados entorno da exposição do mestre Naguib. É bom que os debates aconteçam mas quando o seu impacto é afogado, não sei por quem, devo concordar consigo que é doença…

Em relação a minha concordância com o Gemuce, é no aspecto levantado por um aluno da Enav citado neste texto cujo nome não foi revelado. Na verdade o que ele levanta faz sentido para mim, porque por exemplo, eu na qualidade de público apreciador das artes, também entendo que o Museu é um espaço onde se deveria mostra, os maiores ou os melhores acontecimentos das artes. Coisas inéditas de certo modo. Continuarmos a ver o que se vê todos os dias na galeria do Núcleo de Arte, isso não tem muito interesse.

Por isso acho que é falta de sensibilidade ou de responsabilidade ou de conhecimento das suas missões por parte dos dirigentes do Museu. Mas também penso que os artistas devem ter alguma parte de culpa quando se tratar de serem preguiçosos. Pois imagino quer pelo jurado ou pelo convite não farão milagres com as propostas existentes. É preciso interacção. É esta mesma falta de responsabilidade e sensibilidade dos protagonistas da cultura que fez sumir o seu Ministério.

Um abraço, estarei atento aos próximos artigos e eventos. viva MUVART

Timoteo Muravarava

Anónimo disse...

Gemuce

Apanhas-me de saída, parto amanhã de manhã para curtas férias até dia
4, pelo que não tenho tempo para grandes comentários (escrevo já na
madrugada de sábado). Ainda assim

1. Saúdo o renascer do blog Arte em Movimento. Veterano disso do
bloguismo acho importante como meio de divulgação e de reflexão e
lamentava o seu pousio. Saúdo ainda o cuidado com que está feito. Boa.
Tenho pena que não tenhas divulgado o seu "renascimento" - eu fui lá
agora pela primeira vez desde há muito tempo, surpreendido por este
teu e-mail. Como deves saber encerrei o meu blog - cansaço meus e
insultos locais excessivamente pessoalizados a isso levaram. O
estrangeiro não fala mais aqui, só em surdina entre-amigos, claro. Mas
esse afastamento implicou que não tivesse acompanhado (via clic-clic)
o renascer do vosso blog - não se o divulgaste junto de outras
pessoas, mas se não o fizeste faz uma circular: há tantos blogs que é
difícil os habituais leitores acompanharem (o meu agregador ma-blog
terá cerca de 200 blogs sobre moçambique) e os não habituais são
renitentes às visitas

2. sobre o teu artigo: há algumas incorrecções factuais não muito
importantes - o ano passado, se a memória não me falha, não se tratou
de uma curadoria de Alda Costa e Jorge Dias mas sim de um juri que
escolheu os oito (?) artistas a serem representados e que se filiou no
modelo de Anual Musart escolhida. Digo isto fundamentalmente para
depurar o teu texto e também para não pessoalizares em excesso a tua
crítica a AC e JD, como incoerentes porque voltaram atrás. Nesse juri
estava eu e a Maria Elisa e assim de repente falta-me a certeza se
mais alguém. Ou seja, pelo menos eu e talvez mais alguém, cometeu o
mesmo "pecado", se assim o entendes. (Desculparás a falta de memória
mas estou a escrever a correr e ainda por cima o ano passado acabei
por não assistir à exposição pois ausentei-me antes da expo e quando
voltei segui para trabalhos do Departamento no Centro do país e ficou
tudo numa bruma)

3. Que fique explícito que escrevo só por mim, e não pelos outros
membros dos júris (2007 e 2008). Talvez fosse melhor disparares depois
de perguntar. O juri deste ano foi convidado para ser jurado. Eu fui,
com o agrado de sempre no que toca a colaborar com o Museu. E fomos
informados de que se tinha regressado ao modelo anterior. Explicitámos
na nossa acta de trabalho que se tratava de um regresso a uma
modalidade, que não era nossa opção, e apontámos as vantagens
qualitativas de um outro tipo de abordagem à anual MUSART bem como
indicámos aqueles que nos parecem ser alguns dos incovenientes deste
modelo - tanto sob o o ponto de vista conceptual como sob o ponto de
vista logístico. Oferecemo-nos para trabalhar na preparação de um
outro modelo, seja no projecto global seja relativamente a algumas
dimensões parcelares (como por exemplo a reflexão necessário ao
tratamento da fotografia), e ainda na divulgação das propostas e da
sua interacção com a comunidade artística.
Mais ainda, propusemo-nos, agora informalmente, para participar num
debate sobre a exposição - necessariamente a decorrer lá para finais
de Janeiro, dado ser altura de deslocações, festas e férias; questão
que será até delicada, mas com toda a certeza interessante, pois será
um debate que terá que recair tanto sobre o modelo MUSART como sobre
os critérios de avaliação das obras a concurso.

Falando por mim, acho que qualquer crítica à atitude de jurado me
parece descabida. Sou convidado, o que muito me honra (bem para lá do
"honra" do protocolo), e participo deixando a minha opinião,
companheira ainda que algo discordante. Mas também colaborando - uma
exposição deste tipo que foi a de 2008 não ofende os meus princípios,
não haveria razão para refutar a colaboração).

Em suma, parece-me que o teu texto crítico - e nesse sentido muito bem
vindo - tem um tom excessivamente pessoalizado. Digo-te sem melindres
exagerados, mas porque me parece, por isso mesmo, algo simplista.

4. Alongo-me: acho descabido o "puxares a brasa à tua sardinha" - como
se diz em Portugal - com a utilização da atitude de Quehá como se
fosse um protesto com o modelo assumido e como se fosse um protesto
com a incoerência,melhor dizendo a manipulação das regras por parte do
juri. Nada pode apontar nesse sentido por parte dos jurados - foram
convidados para uma escolha e premiação e fizeram-nas, com a
subjectividade própria desses actos. Quehá, tal como todos os outros,
concorreram sabendo as regras, nada lhes foi mudado À última da hora.
O gesto de Quehá só ele o poderá substantivar. Eu, tal como todos os
outros, só o poderemos adjectivar. Para mim triste, de um
desiquilibrado egocentrismo, de um histrionismo que, por ser só
desiquilibrado, apenas posso lamentar. Não me parece que o artista
tenha uma atitude de protesto conceptual, apenas um "não ganhei vou-me
embora". Como suporte da tua argumentação parece-me muito frágil -
aliás, na prática acho que Quehá ao agir assim está a significar
exactamente o contrário, está a simbolizar a filiação máxima, o cúmulo
de adesão, ao modelo concursivo que a exposição teve.

5. Em contraponto com a minha opinião mais geral tenho algo a apontar
em defesa deste tipo de concurso: um, tem impacto "popular", o que é
um ganho para a direcção do museu (eu não estou a referir a
"directora", estou a referir a linha tutelar do museu), a cuja tem
dado um carácter algo diverso à política havida, com grande incidência
na contemporaneidade. O que é um risco assumido, e foi uma "pedrada no
charco" aqui. Ou seja, às vezes é preciso termos cuidado com os nossos
maximalismos e aceitarmos (uma aceitação que não é a-crítica, claro)
que as instituições têm caminhos, necessidades e até funções que
ultrapassam os legitímos interesses e valores dos que com ela caminham
irmanados.

Dois, tem uma dimensão de comunicação e interacção mais vasta com a
comunidade artística local - o que poderá ser potenciado através de
outra abordagem aos mecanismos dessa comunicação, muito em particular
a dimensão textual indutora das participações (Por exemplo um modelo
meio termo poderia ser um convite À participação a vários artistas e a
abertura de um concurso, com prémios conjuntos ou separados. Um modelo
misto que proporcionaria a dimensão "conjugação" comunitária e a
"mostra" do mais relevante actual). Não é este o meu entendimento, mas
gosto de compromissos ....

6. Exógeno ao assunto a questão da "imagem de África" que Jean Digne
não reconhecia. Nao nos dás o contexto da afirmação, o que impede um
bocado o diálogo sobre a matéria. Terá a ver com as imagens
pré-construídas, ou mesmo pós-construídas. Eu quando levei o meu
cunhado, que passou três anos num buraco na guerra em Angola, a
Neilspruit também ouvi isso - isto não me parece Àfrica. Não me
pareceu muito significante.Nem a ele, que entendia bem a pluralidade
que a estatueta "masai" esconde.

7. Discordo radicalmente, e acho mesmo ofensivo, usares um meio de
comunicação pública, como o é um blog, para te gabares de uma
instalação "híbrida" de mucapatada e rabanadas sem que me tenhas
convidado para a inauguraçao-degustação. Essa não te perdoarei ...

Um bom ano para todos

Zé Teixeira

Anónimo disse...

Conforme havia prometido, cá estou para comentar um pouco acerca do caso Quehá (jovem artista plástico moçambicano), produto também da Escola Nacional de Artes Visuais se a memoria não me trai; individuo habituado a receber prémios desde o seu tempo de estudante naquela escola.
Ora bem! Estando ele habituado a participar para conquistar prémios ou distinções honrosas, participou no "concurso" Exposição anual MUSART 2008, com a lição bem estudada e cheio de confiança, imagino eu, porque lendo o cenário do que sucedeu no Museu Arte naquele dia (....) só se pode atribuir esse factor aquela acção inédita nas plástica moçambicana.
Importa referir neste meu comentário que cheguei tarde \a exposição naquele dia. Por isso não presencie esta acção, mas a tempo de ouvir os comentários do publico apreciador que se encontrava no interior e no exterior do Museu.
A atitude do Quehá...Atenção! Esta e uma opinião pessoal que pode ser errada. Aquela foi uma atitude que de invasão ou rebeldia contra o normalmente aceite na sociedade e sobre tudo na sociedade moçambicana onde as fronteiras do correcto e o incorrecto encontram-se ainda "bem" definidas apesar de enumeras queixas atribuídas pelos pais à juventude deste País; estes são acusados de imoralidade e irresponsabilidade segundo os seus olhares a esta camada social.
Conforme dizia, foi uma invasão ou rebeldia que veio demonstrar como o homem e artista Quehá, desenibiu-se da sua consciência social para deixar de actuar em sí a inconformidade que ele sentiu a não ser lhe atribuído o premio que para todos os efeitos ele considera-se legitimo vencedor de pelo menos um deles. Não sendo contemplado dirigiu-se enfurecido à parede onde estava a sua obra retirando-a daquele local. Qualquer artista, imagino eu gostava de ver a sua obra exposta no Museu Nacional de Arte porque como dizia um velho amigo meu « Não é o mesmo expor numa galeria que num Museu Nacional de Arte. Museu é Museu!».
Pois bem! Este não foi o pensamento do artista em referencia. Porquê? Não sei, mas talvez porque lá ele havia estado em anteriores eventos ou porque viu no evento uma oportunidade de demonstrar a sua «veia» vencedora em concursos de arte promovidos na praça, talvez uma oportunidade comercial ou então uma legitimação dele como artista vencedor sem igual. enfim, várias são as interpretações que suscitou aquela acção.
Apesar de varia interpretações o denominador comum nos comentários acompanhados, aquela era uma atitude de loucura, de estupidez ou de arrogância. Eu acho que não!
Acho sim que foi uma atitude de coragem de quem tinha claro o objectivo a alcançar ao participar no "concurso" não tendo alcançado o objectivo pretendido, retirou-se como mau perdedor porque não foi pelo ferry paly que muitas vezes é exigido numa competição.
Quero acreditar que esta foi uma atitude de alerta a comissão organizadora assim como aos patrocinadores a adoptarem outras formas de participação na anual MUSART. Isto não e para negar a existência de concursos mas sim que haja um corpo diferenciado para esta anual pois isso poderá diversificar as mostras de arte a nível Nacional sobre pena de ser mais uma exposição.
Quero concordar com Gemuce quando diz que é preciso repensar a organização da anual Musart.
O método adoptado pelo Museu em 2007 foi positivo, pois partiu da observação do proprio Museu no que diz respeito a produção artística assim como o envolvimento dos fazedores da arte na praça para merecerem a participação na expo.
Acredito que seleccionando artistas que vão desenvolvendo a sua actividade ao longo do ano podiam merecer essa participação. Se houver prémios que sejam atribuídos entre os artistas seleccionados. Este método motivaria os artista a trabalharem mais não só para ganhar premio senão para ganhar a oportunidade de participar na Anal Musart fazendo desta expo um barómetro do qual poder-se-a orientar mostras de maior qualidade de forma a engrandecer a plástica moçambicana.
Quero acreditar que deste modo teríamos realmente uma exposiçao anual com tendência ascendente, talvez com muitos artistas jovens com maior qualidade garantida ano pós ano.
Para terminar, agradecia que não vissem nos meus comentários a eliminaçao de concursos de arte, senão proposta para pensar-se noutros modelos de organização da Expo Musart para não parecer esta, mais um concurso de muitos que existem na praça. Mais não disse. Isto é apenas uma opinião pessoal que pode muito bem não significar nada mas fica aqui a ideia de um fazedor, mais ou menos atento a evolução da actividade das Artes Visuais de Moçambique nos últimos tempos dentro e fora do País.
Aquele abraço para ti camarada presidente (Gemuce) e a todos que poderão participar deste debate.


Marcos Muthewuye

Anónimo disse...

Nao sei do estado emocional do artista Quhea naquele momento, mas a partida mostra uma agressividade nao muito saudavel. Parece me que nao concordando com o premio atribuido a sua actitude demonstra uma grande falta de etica profissional.

vania Lemos